O Brasil, conforme prevê a Constituição Federal, deve prover saúde integral, universal e de qualidade a todos os cidadãos. Trata-se de um desafio, diga-se, porém viável.
Assim, é essencial à rede pública quanto para a privada um modelo de cuidado que diminua custos sem deixar de valorizar a trajetória dos pacientes e atender às suas necessidades. A começar por poupar as pessoas de idas e vindas aos serviços em busca do especialista correto e tirando o protagonismo das doenças a partir do incentivo à prevenção e da atenção primária.
Hoje, aliás, o próprio sistema suplementar já trabalha com o conceito de que a atenção primária em saúde (APS) devidamente aplicada, é capaz de evitar complicações e intervenções de complexidade secundária e terciária, o que leva ao aprimoramento da assistência prestada e à economia expressiva de recursos.
Os resultados são surpreendentes em países que aderiram à APS, como Austrália, Canadá, Chile e Reino Unido. Lá, os general practitioners, de atuação semelhante à dos nossos médicos de família e comunidade, resolvem cerca de 90% dos atendimentos.
De 80% a 90% das necessidades de saúde que um indivíduo tem ao longo da vida podem ser atendidas pela APS, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Desse modo, melhorar os resultados clínicos e a experiência dos pacientes e reduzir as taxas de mortalidade e a utilização de exames diagnósticos, medicamentos, internações e outros serviços, fazendo da atenção primária o carro-chefe da saúde, é possível e está nas nossas mãos.
Levar a atenção primária para aqueles que contratam planos é um dos objetivos de iniciativas desenvolvidas pela Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC). Um exemplo é a nossa parceria com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC) e o Institute for Healthcare Improvement (IHI no arrojado Projeto Cuidado Integral à Saúde.
Estamos realizando cursos com 16 operadoras. Elas têm recebido capacitação para implementar as melhores condutas em APS de maneira ética e segura, com equipes e profissionais especializados. Assim como para monitorar os cuidados primários por indicadores de evidências e aplicar modelos de remuneração inovadores para aperfeiçoar a qualidade assistencial e a sustentabilidade do sistema. Quando capacitadas e certificadas, essas operadoras terão um diferencial e serão mais valorizadas por potenciais contratantes.
O momento é de arar o terreno para uma transformação que beneficiará pacientes e empresas, estabelecendo um novo padrão de assistência, mais abrangente e sustentável. Na concepção do projeto piloto, os médicas e médicos de família e comunidade devem estar acessíveis em todo o Brasil, coordenando equipes de atenção primária, inclusive indo até o usuário, conhecendo seu histórico, antecipando-se no cuidado.
O futuro da medicina privada depende da adoção decisiva da APS como seu pilar. Temos de ter em foco sempre que trabalhamos com gente. E gente é pra brilhar, como diz o poeta. E para viver saudável, completo aqui. Boa semana.
Zeliete Zambon, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade
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