Se a Neurologia brasileira pudesse receber um presente neste fim de ano, qual seria o ideal? O que é preciso fazer para aprimorar a prática neurológica no país? Quais são seus desejos para o futuro da especialidade? Essas foram algumas das perguntas que a ABN fez a Carlos Roberto de Mello Rieder, presidente da ABN, e a Elza Dias Tosta da Silva e Rubens José Gagliardi, ex-presidentes. Confira, a seguir, declarações que mesclam coragem, empenho e vontade de mudar o mundo em 2024 – um paciente por vez.
“Nosso objetivo, como neurologistas, é cuidar das pessoas promovendo a qualidade de vida. Por isso, se eu pudesse, daria um presente não à especialidade, mas à população: acesso ao bom atendimento médico. É o que nos falta. A desigualdade ainda é gritante por aqui. Quem tem acesso a planos de saúde consegue, por exemplo, passar por procedimentos necessários, baseados em evidências científicas, que o SUS nem sempre contempla; e mesmo na saúde suplementar eles podem acabar barrados. Além da parca acessibilidade, a má distribuição de profissionais e de recursos é outro desafio central. A Demografia Médica 2023 mostrou que os especialistas se concentram nas capitais, em especial no Sul e no Sudeste, enquanto há um sem-fim de pacientes à espera nos interiores e nas regiões do Brasil mais afastadas desses grandes centros. Precisamos de estrutura e de estímulos corretos para a interiorização.”
Carlos Roberto de Mello Rieder
“Tenho três desejos para a neurologia neste Natal. Anseio que a ABN ultrapasse todas as metas estabelecidas no planejamento para ensino, pesquisa e divulgação. Que tentemos alcançar uma presença equitativa de mulheres em cargos de liderança, não só na ABN, mas também em hospitais e universidades. Elas representam aproximadamente metade dos egressos das faculdades de Medicina, proporção que se observa também entre membros da ABN, ao passo que nossa academia, nascida em 1962, foi presidida por mulheres apenas duas vezes. Meu terceiro desejo diz respeito ao tempo. Vivemos em outra época, mas a questão do tempo nunca foi tão relevante no que concerne à boa prática médica, em particular na Neurologia. Assim, se alguns costumes precisam urgentemente mudar, acredito que um projeto de retorno à tradição da escuta aprofundada do paciente, da anamnese detalhada, do diagnóstico debatido entre colegas, ou seja, de um ritmo humanizado na clínica, precisa ser reexaminado. O avanço exponencial dos dispositivos tecnocientíficos nos ajudou a garantir a fundamentação científica de que necessitamos tanto na pesquisa quanto na clínica, mas não podemos esquecer que ao passo que a ciência fala do universal, nós tratamos de sujeitos humanos em sua singularidade. O resgate do tempo da escuta e da elaboração é uma batalha política, especialmente no contexto neoliberal da atualidade. A principal frente dessa batalha, acredito, ainda é o SUS, mas faço votos para que cada um carregue a semente dessa valiosa luta para todos os seus ambientes de trabalho.”
Elza Dias Tosta da Silva
“Espero que a Neurologia ocupe um espaço cada vez mais significativo dentro da Medicina e da sociedade. Servir, ser úteis é o nosso propósito. Para tanto, é preciso que os profissionais obtenham uma boa formação continuada e atualização científica de qualidade, através de cursos, eventos, livros, revistas. A ABN, obviamente, é fundamental nessa empreitada. Sendo uma entidade representativa, além de organizar atividades e publicações que enriquecem a prática neurológica, luta em defesa da nossa classe, reivindicando, por exemplo, maior acesso a informação, melhores condições de trabalho e remuneração mais justa, pois o que recebemos ainda está aquém do que é necessário para o digno exercício da profissão.”
Rubens José Gagliardi
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