Nem toda dor de cabeça é igual, aliás, são vários os tipos de cefaleia. E o problema está em tratá-las todas da mesma forma, automedicando-se como se faz comumente. O fato é que uma dor incomum deve ser investigada, pois pode ser um sinal de um problema neurológico mais grave.
“Quando um paciente que sempre teve dor de cabeça chega e diz ‘esta é a pior dor de cabeça que já me acometeu’ ou ‘esse tipo de dor de cabeça eu nunca tive’, a gente tem a obrigação de investigar”, alerta a neurologista Célia Roesler, vice-coordenadora do Departamento Científico de Cefaleia da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCe). O mesmo procedimento vale para pessoas acima de 45 anos que apresentam um quadro de cefaleia pela primeira vez.
Os problemas neurológicos que podem ser acobertados por uma dor de cabeça vão desde um aneurisma até um tumor cerebral. “Por isso, tem de fazer um exame completo, de fundo de olho, examinar a marcha, a sensibilidade do paciente, se ele tem a força diminuída de um lado do corpo ou não, observar se não tem alguma alteração de fala, alguma disfasia”, indica a dra. Célia.
Uma das piores consequências da automedicação indiscriminada é transformar uma cefaleia episódica em crônica. Mas, em alguns casos, ela pode trazer problemas mais graves, como para pacientes com enxaqueca com aura que combinam o medicamento com alguns tipos de anticoncepcional ou são tabagistas e, assim, aumentam os riscos de um acidente vascular cerebral.
No caso dos pacientes com enxaqueca crônica, um problema neurológico pode ser confundido com uma crise e a automedicação pode piorar o quadro. “Vamos supor que ele esteja tendo uma crise hipertensiva, a pressão subiu de repente e deu dor de cabeça, na nuca, e ele pode pensar
que é aquela enxaqueca. Ele vai tomar o remédio para enxaqueca, que são vasoconstritores, cuja contraindicação é pressão alta, aí a pressão vai subir mais ainda e ele pode ter um acidente vascular cerebral por causa dessa automedicação errada. Ou então está com um vasinho cerebral que está sangrando por algum motivo e começa a dar uma dorzinha de cabeça e ele toma uma aspirina, que afina o sangue, e vai sangrar mais, vai piorar mais o quadro dele. Ou então ele está com dor de cabeça, vomitando e não percebeu que está com rigidez de nuca, com febre, e pode ser uma meningite e ele está tomando remédio para enxaqueca”,
adverte a neurologista.
Ou seja, é preciso ficar atento à dor de cabeça, ao tipo, à intensidade, ao local que afeta, aos outros sinais que o corpo dá, e ir a um pronto atendimento para saber ou não da necessidade de procurar um especialista. “As pessoas têm de prestar mais atenção na dor que sentem e não generalizar ‘toda dor de cabeça é aquela enxaqueca que eu tenho’. Não se automedicar. Mudou a característica da dor, ou aquelas pessoas mais velhas que nunca tiveram dor e aparece, tem que investigar, tem de procurar ajuda”, enfatiza a dra. Célia Roesler.