O índice de cesárea nas últimas décadas aumentou consideravelmente - mais de 50% dos bebês brasileiros nascem por essa via de parto. Quando bem indicada, em situações necessárias, o procedimento pode salvar a vida da mãe e do bebê. Entidades como a Organização Mundial de Saúde e o Ministério da Saúde reprovam que a prática seja rotineira, sem recomendação, pois eleva o risco de problemas como distúrbio respiratório no recém-nascido, além de ampliar a chance de morte materna e neonatal. Outro ponto que merece atenção é a possibilidade de desenvolver acretismo placentário em eventual parto posterior.
Segundo dr. João Bosco Meziara, coordenador dos representantes credenciados do interior da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP), a complicação é consequência do desenvolvimento anormal da placenta no útero, que penetra mais profundamente em sua parede, o que compromete sua expulsão (ou remoção) no momento do parto.
“Esta anomalia pode surgir no início da gestação, com 3 possíveis variantes, de acordo com a profundidade que atinge a parede uterina: acreta, nas camadas mais superficiais; increta, no músculo uterino; e percreta, quando ultrapassa todas as camadas e chega ao revestimento do útero - até a parede da bexiga urinária em alguns casos”, esclarece Meziara.
Suas causas são variadas, entre elas, implantação mais baixa da placenta, distante do fundo uterino, em local de vascularização deficiente; ou decorrente de cicatrizes uterinas por cirurgias prévias, como a cesárea. Outra cicatriz que pode levar ao acretismo é a retirada de tumores uterinos, dos quais o mais comum é o leiomioma. Áreas afetadas por processos infecciosos também podem aumentar o risco dessa grave condição.
Geralmente não apresenta sintomas durante a gestação. Para chegar ao diagnóstico, a ultrassonografia obstétrica de rotina na gravidez permite avaliar o grau de profundidade da invasão do útero. Outro exame possível é a ressonância nuclear magnética, indicada como método complementar.
A maior complicação é no momento do parto. Se não houver sangramentos prévios durante a gestação, o bebê geralmente nasce sem implicações e não é afetado. “A mulher fica mais suscetível quando retirada a placenta, o que pode ser extremamente difícil. Ela deve ser informada de que a retirada do útero pode ser necessária e, dependendo da profundidade de invasão, o procedimento vai até a abertura da bexiga para a remoção do tecido placentário anormal alojado”, conta o especialista. Complicações vasculares e lesões dos ureteres devem ser observadas.
Meziara defende que o parto normal é a via mais saudável para a mãe e para o bebê, com inúmeros benefícios. “Para prevenir o quadro, é importante evitar cicatrizes desnecessárias no útero, e uma das formas disso ocorrer é se poupar de uma cesárea, sempre que possível” conclui.